Entenda a realidade financeira da comunidade LGBTQIA+
Você sabia que junho ficou marcado como o mês do orgulho LGBTQIA+ por causa de um movimento que aconteceu no dia 28 de junho de 1969 contra a violência sofrida por esses grupos? O movimento foi chamado de Rebelião de Stonewall.
Sendo assim, desde então, esse período do ano passou a ter como propósito dar visibilidade à comunidade LGBTQIA+ e discutir as ações necessárias para sua inclusão na sociedade.
Para quem não sabe, a sigla LGBTQIA+ significa lésbicas, gays, bissexuais, trans e travestis, queer, intersexos e assexuais. O sinal positivo, de "mais", determina que essas não são as únicas identidades de gênero e orientações sexuais que englobam a sigla, existindo outras, como pansexuais e pessoas não-binárias.
Esse termo é de extrema importância para a sociedade como um todo, porém, ele pode esconder realidades bem diferentes quando o assunto é dinheiro, principalmente de grupos menores e mais vulneráveis, como os de pessoas trans e travestis.

O que você procura?
A comunidade LGBTQIA+ representa um mercado bilionário?
De acordo com uma pesquisa realizada em 2015 pela Out Leadership, associação internacional de empresas que desenvolve iniciativas para o público LGBTQIA+, o potencial financeiro dessa comunidade no Brasil era estimado em US$ 133 bilhões de dólares, valor que é subestimado, já que o censo brasileiro não inclui estatísticas oficiais sobre essa população.
O curioso é que muitas pessoas olham para essa estimativa e pensam que a comunidade possui um potencial enorme como consumidor, sendo que não é bem assim que funciona.
Se formos parar para pensar, cada letra da sigla LGBTQIA+ representa um grupo diferente, ou seja, é impossível olhar para ela e pensar nessas pessoas como se todas tivessem o mesmo potencial econômico, as mesmas oportunidades e os mesmos desafios. Fazer isso é não olhar para uma realidade mais complexa.
Para entender como é, de fato, a realidade financeira dessa população, é preciso ter um olhar mais profundo.
Comunidade LGBTQIA+ e a educação
Segundo uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, 68% dos jovens da comunidade com 13 a 21 anos afirmaram que foram agredidos verbalmente nas escolas simplesmente por serem quem são. Além disso, mais de um quarto dos entrevistados foram agredidos fisicamente.
Para muitos, isso é uma brincadeira, "coisa de criança", no entanto, para outros, esse preconceito e agressão pode significar o fim precoce da vida estudantil. Aproximadamente 70% das pessoas trans e travestis não concluíram o ensino médio, sendo que somente 0,02% teve acesso ao ensino superior, de acordo com a pesquisa.
Como todos sabem, a escola possui um impacto muito significativo na vida de qualquer pessoa, afinal, é nesse espaço que todos desempenham um papel muito mais intenso de interação com a sociedade. Além disso, um ano a mais de escolaridade no Brasil aumenta 15% a renda média de uma pessoa, de acordo com um estudo feito pelo Ph.D em economia Marcelo Néri.
Por outro lado, ao analisar a população LGBTQIA+, percebe-se que a realidade na educação é diferente: a escolaridade dessa comunidade é bem maior do que a média geral da população.
Um levantamento feito pela startup social Todxs apontou que 30,25% dessa população possui ensino superior completo, contra pouco mais de 8% da média brasileira, segundo o Censo de 2010.
Mas, afinal, por que existe essa diferença? Como dizemos, a sigla pode ser uma só, porém existe um número muito maior de gays, lésbicas e bissexuais. Ao colocar todos juntos e fazer uma média, a realidade das pessoas trans e travestis fica quase inexistente.
Como isso reflete no mercado de trabalho para a população LGBTQIA+?
É fato que quanto menos escolarizada uma pessoa é, menores são as chances dela ter um emprego formal. Os dados de desemprego no Brasil comprovam: em 2020, 13,4 milhões de pessoas estavam desempregadas, principalmente aquelas que não tinham o ensino médio completo.
Pelo fato das pessoas trans e travestis passarem menos anos nas escolas do que a média da população e ainda enfrentarem muito preconceito, apenas 4% desse grupo possui um emprego formal, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais.
Por outro lado, 60% dos entrevistados de uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual afirmam estar empregados, seja com carteira assinada, informalmente, como servidor público, autônomo ou empreendedor.
Em outras palavras, quando o assunto é empregabilidade da comunidade LGBTQIA+, existe uma grande diferença de oportunidades para cada letra dessa sigla.
O fator ainda comum é o preconceito
Uma pesquisa do Linkedin mostrou que 35% dos profissionais dessa comunidade já sofreu algum tipo de discriminação, sendo ela velada ou direta no ambiente de trabalho. Entre as principais críticas apontadas estão as piadas e comentários homofóbicos.
A boa notícia é que a edição de 2020 do estudo "Diversity Matters" (Diversidade Importa, em tradução para o português), da consultoria McKinsey, afirmou que cerca de seis entre dez grandes empresas ouvidas investem em programas de diversidade e inclusão.
Apesar disso não ser o bastante, essas ações são fundamentais para que existam políticas mais rígidas contra a discriminação.
Como tudo isso impacta na renda da comunidade LGBTQIA+?
Em média, a população LGBTQIA+ tem uma renda familiar superior à da população brasileira em geral, de acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual: 56,6% dos entrevistados recebiam, no mínimo, três salários mínimos.
Na média brasileira, somente 11,5% das pessoas estão nessa mesma faixa de renda, segundo o Censo de 2010.
Apesar disso, a comparação da realidade financeira entre pessoas trans e pessoas cis (aquelas que se identificam com o gênero de nascimento) possui uma grande diferença. A proporção de homens e mulheres trans que ganham até um salário mínimo era mais que o dobro do que a proporção de homens e mulheres cis nesta mesma faixa de renda.
Sendo assim, a escolaridade e a empregabilidade das pessoas trans acaba influenciando diretamente a renda das pessoas e, consequentemente, a forma como elas se relacionam com o dinheiro.
Falar sobre a população LGBTQIA+ é muito complexo
Consegue perceber que falar do mercado LGBTQIA+, sem trazer as diferenças entre os grupos e as comunidades, é praticamente impossível? Além disso, se analisar como a etnia também influencia em tudo, o debate fica ainda mais complexo.
Dessa forma, enquanto números gerais mostram uma realidade financeira positiva, uma análise um pouco mais profunda mostra uma série de desigualdades que precisam ser trabalhadas.
Comemorar o mês do orgulho LGBTQIA+ é fundamental, mas é sempre importante lembrar que, assim como na sociedade em geral, existem privilégios, oportunidades, desafios e obstáculos dentro da própria comunidade que devem ser debatidos, questionados, reconhecidos e superados.
Descomplicamos?
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Redatora e Especialista em Produtos e Serviços Financeiros na Foregon, adora descomplicar os cartões de crédito, empréstimos, financiamentos, seguros, contas digitais, entre outros. Boa parte do seu trabalho é acompanhar a movimentação dos bancos e instituições financeiras para trazer as principais notícias do mercado.
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